“Em um belo dia de sol, eu esperava, pacientemente, em casa. Estava em uma rede trabalhada em cores coral e creme, deliciando-me com a leitura do livro ‘50 tons de Cinza’, enquanto, me balançando suavemente, aproveitava a brisa agradável que soprava na varanda do primeiro piso.
Faltavam cinco minutos para as dez horas e ainda não havia sinal de minha carona. ‘Às dez horas, sem atraso’, disse ele no dia anterior. É bem verdade que eu estava aproveitando o momento, mas também estava um pouco ansiosa para minha primeira trilha com o grupo ‘Trilhas sem data’. Eu já havia ouvido falar neles: grupo irreverente, sedento por aventuras, mas nunca havia me interessado fazer parte. Mas, como nossas vidas tomam rumos muitas vezes inesperados, fui chamada para a trilha da Pedra do Elefante e surpreendi-me respondendo que sim.
Às 10:05, vi chegando um carro e parando em frente à minha casa. Em um primeiro momento, pensei que fosse engano. Dentro do carro estava um homem que aparentava ter 20 anos de idade, vestido de jogador de futebol. Era certo de que já estava voltando do jogo, pois tinha seus cabelos molhados de suor.
_’Venha, eles já estão subindo a trilha.’ - disse ele.
_’Mas como já estão subindo? Eles não iriam nos esperar?’ - perguntei. Não pensei e entrei no carro, antes de ter a resposta:
_ ‘A gente alcança eles.’
Chegando no Mirante de Itaipuaçu, entrada da trilha, comecei a perceber um pouco da vista que teria no topo. Apesar de o Mirante ter pouco mais de 150m, já possui uma vista considerável da praia de Itaipuaçu, Município de Maricá.
Fiquei imaginando o que iria encontrar no ponto mais alto. Como podia morar tão perto de um lugar como este sem conhecê-lo?
Quando começamos a entrar na trilha, a subida começou a ficar mais e mais íngreme. Árvores gigantescas, bambus, bromélias, plantas de todas as espécies que já estou acostumada a encontrar em trilhas no Estado do Rio. Só que, com uma magia especial! Toda aquela pressa para alcançar o grupo, deixava-me ansiosa e curiosa. E com toda aquela vegetação em volta, sentia-me abraçada pela mata, em alguns momentos até como se fosse parte dela.
De repente, meu companheiro, parou e disse:
_ ‘Perceba o som dos pássaros. Eles estão percebendo nossa presença, e parece que alguns estão gostando e outros não.’
Eu sabia não estávamos sós. Sempre sinto a presença da fauna quando estou na mata. Sei que existem três camadas na floresta. Às vezes quatro. E que, inclusive, dependendo do tipo e raça do animal, este viverá na camada adequada para seu conforto e segurança. Comecei a escutar não só os mais diferentes cantos dos pássaros que sobrevoavam as copas das árvores, mas também sons das cigarras e dos micos. Percebi que em verdade estávamos adentrando a casa deles, e assim, mentalmente pedia licença e conversava com eles.
Senti então, novamente aquela sensação. Como se eu também fizesse parte daquele todo: das árvores que nos abraçavam, dos animais que brincavam acima e dos cogumelos que se espalhavam no chão. Tudo parecia formar um abrigo tão agradável.
Estava precisando daquele momento.
Depois de 1 hora de trilha, conseguimos juntar-nos ao grupo. Fiquei feliz. Gostei do astral da equipe, principalmente, do líder: Zé.
Menos de meia hora depois, chegamos ao topo. Então, percebi o porquê de tanta animação para fazer essa trilha. Eu já a tinha feito, porém por outro lado: pelo Bananal, pela entrada do Costão. Desse lado foi completamente diferente. As pedras nos ajudam com suas reentrâncias. Não é necessário cordas.
No topo da Pedra do Elefante, tivemos uma vista maravilhosa de ambos os lados: de Itacoatiara e de Itaipuaçu.. Olhando para a frente, na direção de Maricá, percebia uma praia interminável que morria ao horizonte em um lugar próximo de Praia Seca. Ao lado direito, um mar azul que fazia uma combinação única ao se encontrar com o céu. Foi realmente inesquecível!
O calor estava intenso lá em cima: sol de uma hora, por isso, não pudemos ficar muito tempo. Olhei pela última vez e gravei em minha mente aqueles visuais.
A descida foi tranquila, fora uma ou duas vezes que escorregamos no barro. Alguns momentos tive que usar o tão conhecido "descer de bunda", mas às vezes, virava de costas e aí era mais tranquilo.
Novamente, aquela sensação de ser parte da mata. Parecia, agora, que os animais não queriam que eu fosse embora. Acho que eles sentiram como eu gosto de estar lá.”
(Anônimo)
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